O leite detinha um protagonismo nas casas das famílias, e as mulheres geralmente ficavam com todas as atividades: tirar o leite, coar, desnatar, preparar o queijinho branco, bater a manteiga e muitas outras tarefas. Inevitável não relembrar do Butterfass (espécie de batedeira manual feita de madeira ou até de bambu), que exigia longos movimentos manuais repetidos para que a manteiga chegasse “no ponto”. O queijo cozido denominado de Kochkäse inundava a casa com um irresistível cheiro no ato do cozimento (impossível não querer “raspar a frigideira”, ao fundo ficava uma crocante casca de queijo). Certamente a rotina das famílias dos colonos “orbitava” em torno da produção do leite, e evidentemente ela tem conexão com hábitos que os imigrantes trouxeram da Pomerânia. O escritor Nelson Pamplona, em seu livro Sabores da Colônia Blumenau, destaca que o imigrante que ocupou os lotes de terras da região, era predominantemente da Pomerânia e “alimentava fervorosamente o ideal de possuir seu próprio pedaço de terra”. Assim, a policultura de subsistência se enquadrou perfeitamente com a tradição e a índole do imigrante camponês. Nesse cenário, as vacas leiteiras assumiam um papel fundamental, muitas vezes tão valorizada que as filhas quando casavam e deixavam a casa dos pais, recebiam uma vaca de presente (uma espécie de dote), que também era uma forma dos pais garantirem que a filha teria sustento na nova família que formava. Surgindo um novo núcleo familiar, todo o processo se repetia, produção caseira de manteiga, nata, kochkäse… Com isso, ao longo do tempo a produção doméstica dessa nova família aumentava e surgia a oportunidade da venda. O leite excedente das famílias era separado nas leiteiras (Milchkanne em alemão e Melkkann em Pomerano/Platt) e levadas até à beira da rua para coleta diária. Nesse aspecto, a carroça do leite (Milchwagen em alemão e Melkwaga em pomerano/platt) acabou assumindo um papel importante nas vilas, além da principal função de recolher diariamente o leite, levava até os colonos os produtos encomendados da “venda”, e ainda, assumia o papel do correio. O Milchwagen foi durante muito tempo a ligação mais consistente que o colono tinha com o “mundo lá fora”. Quanto às várias queijarias que existiam em Pomerode, a maioria encerrou suas atividades na década de 90. Entre as principais motivações estavam as recorrentes exigências de investimentos para adequações sanitárias, a diminuição gradativa da produção de leite pelos colonos e o pouco interesse das novas gerações das famílias pelo negócio. Atualmente ainda temos exemplos de produtores de leite na cidade, como a família Glasenapp da região do Wunderwald e a família Gumz de Testo Alto.
Imagens
Queijaria (Molkerei) na Pomerânia (Kreis Pyritz). Foto: https://oldthing.at/BLANKENSEE-Pyritz-Pyrzyce-Pommern-Gasthof-GRIESE-Molkerei-viele-Personen-0017720025
Pomerana coando leite com o tradicional pano (antiga Pomerânia). Foto: Margret Ott
Várias carroças de leite (Milchwagen) na coleta diária para o Laticínios Passold em Pomerode. Foto: http://fotosantigaspomerode.blogspot.com
No Kreis de Dramburg (Pomerânia), camponesa produzindo manteiga no Butterfass. Foto: Livro Das Alte Pommern
Dona de casa processando leite. Rotina da maioria das mulheres em seus afazeres domésticos. Foto: Ingo Penz