Para um pomerano o casamento constituía-se em um dos acontecimentos mais importantes e mais representativos do início da sua vida familiar. De acordo com prof. Dr. Martin Dreher, o aspecto no passado que talvez mais distinguia os pomeranos das tradições de outros grupos, foram as práticas ligadas às festas de casamento. Em um casamento tradicional desta etnia, o que normalmente costuma chamar mais atenção das pessoas atualmente é o vestido de noiva preto. Abordaremos a seguir algumas das principais teorias que cercam este antigo costume, e a argumentação de pesquisas recentes relacionadas ao tema. O vestido de noiva dos primeiros casamentos era realmente de cor preta. É o que comprovam as peças de roupa deixadas pelos antigos e também pelas imagens registradas em fotografias. Em sua viagem pelo Brasil por volta de 1970, Klaus Granzow, ator e pesquisador pomerano, relata sua admiração ao visitar a família Friedrich: “De repente apareceram as mulheres da família Friedrich na outra sala dançando. Elas estavam usando trajes bem antigos que serviram de vestidos de noiva e que haviam guardado por muito tempo. Os vestidos eram longos na cor preta. Até então eu apenas conhecia este tipo de vestido pelas fotos. Me admirei por ainda ter encontrado ali estas peças tão valiosas e de forma original”. Contudo, há algumas controvérsias do porquê da cor preta. Para o prof. Dr. Wilhelm Wachholz, existem interpretações opostas em torno do uso do vestido preto pelas noivas pomeranas. Dr. Wachholz cita três exemplos: 1ª) Uma interpretação relaciona o vestido preto com os riscos decorrentes do parto. Neste caso, preto é cor do luto, lembrando que casamento, maternidade e morte estão interligados. 2ª) Há também aqueles que acreditam que o preto representa a morte social da noiva, ou seja, a separação dela de sua família e o ingresso em outra. 3ª) Outros afirmam ser esta a roupa mais acessível da época. Dr. Seibel acrescenta a estas teorias: 4ª) O grotesco costume feudal do direito a primeira noite de núpcias que cabia por direito ao senhor feudal e não ao noivo (jus primae noctis – Esta ideia que já havia em toda Europa, alastrou-se somente em alguns lugares, como na Ilha de Rügen e no interior leste das terras pomeranas) e, como forma de protesto teria levado a adoção de uma indumentária de cor preta. 5ª) Relacionada ao frio. O vestido preto absorve melhor o calor. 6ª) Por fim, seria um protesto contra o Governo da Província que não dava assistência. Atualmente a tese mais difundida é a de que o vestido de cor preta da noiva pomerana tem a sua origem em uma atitude de luto ou até de protesto. O imaginário humano sempre foi e continua sendo rico, criando todo um folclore em torno de um fato que não tem qualquer embasamento histórico. A pesquisadora Angela Wittmann mostra que antes do século 19 em vários países da Europa, as noivas se casavam de preto, marrom, vermelho, azul e cinza. Utilizavam o seu melhor vestido e não o usavam somente no dia do casamento, mas também em outros dias. Geralmente o vestido era preto, pois era mais acessível e não aparecia estar sujo com facilidade. Poderia desta forma, ser utilizado mais vezes se comparado com um vestido de cor clara ou branco. Dr. Seibel afirma que nos séculos XIV a moda da cor preta nas vestimentas das mulheres se torna presente nos palácios da Antuérpia e Holanda, chegando para nobreza espanhola nos séculos XV e XVI. O reinado de Maria I (1542-1587) rainha da Escócia, levou o costume para a nobreza irlandesa e inglesa e mais tarde chegou à Pomerânia. Ainda segundo Dr. Seibel, no dia de seu casamento a noiva pomerana queria se vestir como uma princesa, pois nos outros dias era serva de príncipes feudais e suas roupas eram feitas de sacos de cereais e tecidos simples. As camponesas da Ilha de Rügen e Stralsund adicionavam em seus vestidos de núpcias, bordados de flores em tons claros na parte frontal, embelezando os vestidos. Como os tecidos eram caros, a noiva pomerana guardava seu vestido de núpcias, mesmo sendo da cor preta, usando-o somente em dias solenes e religiosos (Natal, Pentecostes, Páscoa, batizados e enterro). Alguns vestidos eram abotoados na frente para poder amamentar seus filhos pequenos. Existem registros de que o vestido de confirmação também era preto.
Imagens
Foto: Museu Pomerano
Casamento de Otto Baumann e Emma Oestreich na cidade de Pomerode. A noiva com seu vestido preto (caso leitores tenham mais informações sobre essa foto, favor contatar: pomeranosnovaleeuropeu@gmail.com).Foto: Museu Pomerano
Registro de casamento dos Pomerodenses Gustav Baumann e Mathilde Klitzke. Destaque para a noiva com seu vestido preto (caso leitores tenham mais informações sobre essa foto, favor contatar: pomeranosnovaleeuropeu@gmail. com).Foto: H. Schröder
Registro de casamento das bodas de ouro de August e Wilhelmine Borchardt da vila de Buddendorf no kreis de Naugard (Pomerânia em 1908). O vestido preto acompanhava os momentos mais importantes da Pomerana, como seus casamentos, registros fotográficos e velórios.Foto: Acervo Roland Ehlert
Wilhelm Schiefelbein e Anna Samp, imigrantes Pomeranos num registro na cidade de Pomerode. Observe o uso de vestido preto pela senhora para uma ocasião especial.Foto: Margret Ott
Noivos do kreis de Stargard em 1900 na Pomerânia. Note o vestido preto, somente o véu é branco.