Ser otimista é uma coisa, ser estúpido é outra. Devemos ver a vida, os desafios, com bons olhos, sempre que possível o lado positivo do que nos cerca ou pode cercar, mas… Isso não quer dizer que devamos usar viseiras a nos proteger de ver a vida como ela é… Dois fatos me fizeram coçar o queixo durante os últimos dias.
Um deles aconteceu nas arquibancadas da Marques de Sapucaí, no Rio. Foi durante a primeira noite de desfile das escolas de samba. Uma senhora, quase 70 anos, estava na arquibancada, com amigos. Abanava-se, fazia calor, sorria, estava numa festa, vivia a felicidade do Carnaval, pois não? Pois é, mas durante a madruga sentiu-se mal e… morreu ali mesmo. O coração a tirara da folia.
Não é curioso que alguém morra do coração no meio de uma festa, afinal, não quero crer que a senhora tenha saído de casa já se sentindo mal, claro que não. E o que aconteceu? Nada demais, apenas a vida e suas surpresas.
Ao saber da notícia, pensei nos princípios budistas do viver no aqui e agora, só no aqui e agora; o ontem não temos mais e o “daqui a pouco” é um risco, um pulo no escuro das incertezas… Santo Deus, sair de casa para ir ao Carnaval e morrer…
E o outro fato, parecido, ainda que diferente, aconteceu em São Paulo. Uma menina nasceu de parto prematuro. Exames daqui, exames dali, tudo superficial, como a cara da médica ou médico que os fez, e… a criança foi dada como morta. Colocada num caixãozinho foi levada para o IML. Horas mais tarde, alguém no IML viu que a menina não estava morta, estava viva… Rebuliço. A criança foi devolvida ao hospital, não imagino a cara da pessoa que a deu como morta, ah, pegar esse ou essa doutora, ah, pegar, e já pegar pelos cabelos… Ah…
Em síntese, é a vida. Uma pessoa sai de casa para se divertir e não volta, morre no caminho, caminho cheio de tamborins, cantos, danças e… felicidades, pelo menos aparentemente.
E a outra pessoa – pessoinha – nasce viva e é dada como morta; não fosse o olho clínico de uma funcionária do IML, a pobrezinha da menina teria sido enterrada, viva…
De fato, ninguém tem a mínima ideia do seu prazo de validade existencial, pode ter muito pela frente ou quase nada… Dessa incerteza, sobra-nos a sabedoria: vivamos plenamente no aqui e agora. É só o que temos.