A vida é cheia de conexões e amizades que surgem pelo caminho e se transformam em combustível para o aprendizado constante. Para Eliane Monteiro Basso, de 45 anos, a conexão mais inesperada de sua vida surgiu através de um muro. Com vista para um vasto pasto, ela conheceu a vaquinha que mais tarde receberia o nome de Magrela. Tempo depois, a filhotinha de Magrela, Brisa, também se juntou a essa história que acabou por inspirar um livro.
Entenda como tudo começou
Morando atualmente em Pomerode Fundos, Eliane e o marido Fabrício se mudaram para o Médio Vale em 2017, por conta de uma proposta de trabalho recebida por Eliane. Eles deixaram a capital paulista e se estabeleceram em Indaial, uma cidade que, apesar de não ser tão pequena quanto Pomerode, escolha inicial de ambos, parecia ser o lugar ideal para facilitar a adaptação à vida no interior. Para o casal, foi como um presente, já que o sonho de morar em Santa Catarina parecia algo distante, reservado para a aposentadoria.
Ao escolherem a casa onde viveriam, algo chamou a atenção de Eliane: o imóvel ficava em uma rua sem saída e, ao lado, havia um vasto pasto. No entanto, no dia em que visitaram o imóvel, ela não notou as vacas que pastavam ali. Mesmo assim, a vista para o campo foi o suficiente para que ela e Fabrício decidissem que aquele seria seu lar.
Através do muro
A verdadeira magia, no entanto, só aconteceu no dia seguinte. Ao tomarem um café na varanda da casa, observaram vacas se aproximando do muro, mas uma delas, em especial, chamou a atenção de Eliane. Uma vaca magrinha ficou ali, bem perto. Foi uma espécie de encontro imediato. “Nos olhamos e imediatamente nos conectamos”, contou Eliane. Desde aquele dia, a vaca, que recebeu o nome de Magrela, e Eliane passaram a se encontrar quase todos os dias. Magrela sempre voltava para o muro, e, com o tempo, Eliane passou a acariciá-la.
A amizade entre as duas foi crescendo. Tanto que ela começou a pesquisar sobre o que as vacas podiam comer e, assim, passou a comprar frutas e verduras especialmente para Magrela. Ela queria que Magrela ganhasse peso e se sentisse bem.
Com o tempo, Magrela teve uma filhote, que recebeu o nome de Brisa, e as duas passaram a vir frequentemente até o muro da casa. Eliane, cada vez mais encantada, começou a sonhar com a possibilidade de comprar as duas vacas e tê-las como parte da família.
Reviravoltas
Mas, como em toda história, a vida nem sempre segue o plano esperado. Um dia, ao olhar pela janela, Eliane viu que Magrela e Brisa estavam sendo carregadas em um caminhão. Desesperada, ela e Fabrício correram até a casa do vizinho, dono do pasto, e descobriram que as vacas haviam sido vendidas para um atravessador, que também já tinha fechado a venda dos animais com outra pessoa.
O homem, no entanto, sugeriu ao casal que seguisse o caminhão e conversasse com o novo proprietário dos animais. E foi o que fizeram. Ao chegar ao sítio onde as vacas estavam sendo entregues, Eliane, emocionada, pediu ao novo dono que não as descarregasse.
“Para você, elas são só duas vacas, mas para mim, são a minha Magrela e a minha Brisa”, argumentou, entre lágrimas. O homem, tocado pela sinceridade de Eliane, que chorava sem parar, acabou cedendo e concordou em vender as vacas de volta ao casal. Porém, havia um detalhe: Eliane e Fabrício ainda não tinham um local adequado para abrigar Magrela e Brisa.
Como solução, o atravessador aceitou cuidar das vacas até que o casal conseguisse um lugar. Eles alugaram então um sítio em Rodeio e, finalmente, levaram Magrela e Brisa para lá. No entanto, a adaptação não foi fácil. As vacas estavam inquietas, tristes e ariscas. Eles procuraram a ajuda de um especialista em gado Nelore e descobriram que, por terem crescido em um rebanho, Magrela e Brisa precisavam estar juntas com outras vacas para se sentirem seguras e felizes.
A decisão mais difícil veio então: “Precisávamos pensar mais no bem-estar delas do que no nosso sonho de estar com elas”, disse Eliane, explicando que elas seriam mais felizes em um ambiente onde pudessem estar com outros animais.
Magrela e Brisa foram levadas para um pasto em Rodeio e, depois de alguns anos, passaram a viver em uma fazenda em Itajaí, onde se tornaram vacas procriadoras.

empatia e o poder da amizade”. FOTO: JANAINA POSSAMAI/TESTO NOTÍCIAS
Nasce um livro
Há poucas semanas, Eliane realizou uma exposição do seu livro “Do outro lado do muro – uma história sobre o respeito, a empatia e o poder da amizade” no Restaurante Brotland, em Pomerode.
Ela conta que muitos amigos lhe diziam que sua história de amizade com Magrela e Brisa deveria virar um livro. Mas, a escritora decidiu começar a produção apenas quando estava no carro, com o marido, seguindo o caminhão para resgatar a vaquinha que seria vendida. “Foi uma história de muito amor, alegria e dedicação por ela, mas também repleta de dificuldades, dores e aprendizados que foram muito importantes para minha vida”, considera.
Então, Eliane se preparou para escrever e compartilhar a história. Desta forma, ela pensou em produzir o livro voltado para crianças, com o intuito de apoiar a educação em valores, atitudes e comportamentos.
O livro acompanha a garotinha Lili e a vaquinha Magrela, abordando a adaptação à mudança, o respeito, empatia pelos animais, importância da amizade, o altruísmo e a generosidade, além de muita parceria entre pai e filha. No livro ela também compartilha os principais ensinamentos tirados dessa experiência.
Um sonho alcançado
Eliane trabalha atualmente em uma multinacional na área de ESG com Desenvolvimento Socioambiental. Ela conta que ser escritora é um sonho que carrega consigo desde quando era mais nova. Para quem quiser conhecer o livro de Eliane, é possível adquiri-lo nas principais plataformas de marketplace ou diretamente com a autora através do Instagram @eliane.mbasso ou pelo WhatsApp (47) 99223-1136.