Desde 2019, início da pandemia da Covid-19, Pomerode tem registrado aumento no número de pessoas que estão em situação de rua e passam pela cidade. A percepção é da Assistência Social, coordenada pela secretária de Desenvolvimento Social e Habitação, Renata Klee.
Nesse sentido, apesar de não possuir um Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), ou um serviço estruturado especificamente para atender a esses casos, a Assistência Social abrange a demanda por meio de seus assistentes sociais ou psicólogos.
Geralmente a abordagem é feita pela equipe do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), coordenado por Carla Beatriz de Castilhos, em meio aos serviços já prestados e horários disponíveis.
Como funciona o atendimento?
Os técnicos sempre verificam as situações que chegam até eles. Durante a abordagem, questionam pelos dados de identificação. “Muitas vezes a pessoa não quer passar e nós não temos como obrigar que ela apresente um documento”, explica Renata.
Outras informações, como de onde ele veio e onde está a família, também são apuradas, porém, como citado anteriormente, nem sempre elas são fornecidas.
Após esse contato, a Assistência Social oferece os encaminhamentos possíveis. Por exemplo, a Prefeitura de Pomerode possui um convênio firmado com a Casa da Solidariedade, em que homens em situação de rua podem ser abrigados no local por até 72 horas (Importante salientar que nos últimos anos houve apenas quatro casos de mulheres em situação de rua atendido pelo órgão na cidade, fora este, todos os demais envolvem homens).
Nesse período eles têm acesso à alimentação, banho e cama. Mas precisam cumprir as regras da casa, como não ingerir bebida alcoólica, não fumar e cumprir os horários estipulados pela Casa. “A grande maioria aceita ir para o local, mas opta por passar a noite e seguir seu caminho no dia seguinte”, conta a secretária.
Quando a pessoa aceita receber ajuda, durante essas 72 horas os técnicos tentam o contato com a família ou outros encaminhamentos possíveis. “Caso não haja tempo hábil para resolver a situação nesse prazo, é feita uma avaliação técnica e o período de acolhimento no local pode ser estendido.”
Carla ressalta ainda que durante o atendimento sempre é verificada a situação com relação ao Cadastro Único, que dá acesso a benefícios do Governo Federal como o Bolsa Família. “Como eles geralmente não têm renda, possuem direito a este ou a outros benefícios eventuais. Por isso, caso a pessoa ainda não tenha o Cadastro Único, nós orientamos como fazê-lo. Também orientamos no caso de possuir alguma deficiência, pois muitos deles têm direito ao BPC”, salienta.

Reinserção na família
O trabalho da Assistência Social durante os atendimento é voltado sempre ao objetivo de possibilitar que a pessoa seja reinserida em sua família de origem ou, então, que tenha outros meios de sair da situação de rua. Como ter os documentos atualizados, os benefícios encaminhados, consiga um emprego e assim por diante. Porém, esse trabalho de aproximação e também de aceitação da mudança costuma ser demorado.
De acordo com Renata e Carla, há sempre um contexto complicado por trás da história de cada pessoa em situação de rua. Geralmente, a condição vem acompanhada de vícios (como o alcoolismo ou uso de outras drogas) ou até mesmo histórico de outras doenças. “Muitas vezes eles estão nessa vida há 10, 15 anos e é difícil pensar em mudar. Acabam sofrendo de baixa autoestima e negam a si mesmos a dignidade que têm direito e, até mesmo, acesso”, contextualiza Renata.
Aproximação
Ao questionamento feito por alguns sobre os motivos de não encaminhar para uma internação em caso de alcoolismo, Renata explica que para que isso ocorra há três caminhos: que a pessoa queira ser internada; que um familiar faça o pedido por uma internação compulsória ou que a Justiça determine essa internação. Em todos eles, o procedimento é feito pela Saúde.
“Se for o desejo da pessoa, nós encaminhamos para atendimento na Saúde, para avaliação feita pelos profissionais da saúde. Mas tudo com relação ao atendimento feito às pessoas em situação de rua nós só podemos oferecer serviços e prestar orientações , nunca obrigar. A não ser que estejam cometendo algum delito ou crime, eles têm direito de permanecer no local em que estão”, esclarece a secretária.
Como ajudar a quem pede dinheiro
Sobre a situação de pessoas que solicitam valores em dinheiro como forma de ajuda, seja nas ruas ou semáforos da cidade, a secretária orienta à população que, ao serem abordados com pedido de dinheiro, não dê, isso porque acaba interferindo no trabalho da Assistência.
Muitas vezes, a equipe já começou um trabalho de aproximação para auxiliar a pessoa ou então a situação que eles relatam para a comunidade não é a que realmente vivem em suas famílias. E isso é verificado pelas equipes que fazem atendimento. “Orientamos então que a melhor forma de ajudar é encaminhar a pessoa à Assistência Social, seja para ela vir até nós ou a comunidade nos relatando a situação para que façamos a abordagem.”
Contato da Assistência Social
A Secretaria de Desenvolvimento Social e Habitação de Pomerode funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 11h30min e das 13h às 17h. A população pode entrar em contato com o Cras através do Fone/WhatsApp: 3387-1125 e com o Creas através do 3395-6300 WhatsApp: (47) 99263-8273.

História de sucesso
Recentemente, a equipe da Assistência Social de Pomerode teve um grande sucesso na reinserção de uma pessoa em situação de rua a sua família. O homem de 57 anos vivia nas condições de rua há cerca de 15 anos. A primeira abordagem feita pela equipe da cidade ocorreu em 2021. No decorrer dos últimos anos, diversas intervenções foram feitas sempre que ele passava pela cidade, no entanto, o senhor dizia que não desejava ter contato com a família que mora em Taubaté/SP.
“Nesse período de 2021 a 2023, esse senhor passou por diversos atendimentos devido à situação de rua, sendo atendido com benefício eventual de kit de higiene pessoal, alimentos, roupas, e por vezes estadia temporária em casa de passagem (devido a intempéries climáticas). Porém, cabe destacar que esse senhor não permanecia nesse município, o mesmo circulava por cidades da região e de tempos em tempos voltava para Pomerode”, explica a equipe que fez o atendimento.
Em maio deste ano ele mesmo buscou pela assistente social e disse que desejava retomar o contato com os familiares. De acordo com a equipe responsável pelo atendimento, o homem queria deixar a rua, muito em função da idade avançada e da situação de saúde.
Por meio do contato com o setor de Saúde e Assistência Social de Taubaté, a técnica da Assistência Social responsável pelo caso conseguiu encontrar os familiares dele, que estavam dispostos a recebê-lo de volta ao lar. Foi encaminhado, então, de acordo com a Lei de Benefícios Eventuais, o auxílio passagem a ele, que embarcou ao encontro da família há poucos dias.