sábado, 14 de junho de 2025
17.3 C
Pomerode
17.3 C
Pomerode
sábado, 14 de junho de 2025

Artesanal, saboroso e carregado de histórias

Fabricação de melado e de vassouras de milho são algumas das tradições mantidas pela Família Glatz

É na propriedade da Família Glatz, na localidade do Ribeirão Souto, que uma saborosa tradição é mantida há gerações. Nos fundos da residência, um espaço muito especial é mantido com todo carinho por Dona Hilca e pelo filho Waldir. No local são produzidos o melado de cana-de-açúcar, o açúcar mascavo e o mus de frutas como goiaba, banana e tangerina.

Foi o avô de Waldir, Emil Glatz, que iniciou a atividade em meados da década de 1950. “A receita é do opa e acredito que o maior segredo seja o capricho e a dedicação. Na época ele instalou um engenho movido a cavalo, bem artesanal. Depois, o meu pai, Valdemar, comprou um engenho movido a motor e fez toda a instalação em nossa residência.”

Foto: Marta Rocha

A tradição então foi perpetuada por Valdemar e a esposa Hilca. Logo que se casaram, passaram a se dedicar às atividades do sítio e viviam de tudo o que produziam e criavam. No começo plantavam fumo, mantinham algumas vacas de leite, além de outros pequenos animais e, na roça, plantavam de tudo um pouco do que precisavam para se alimentar.

“Antigamente, como não tinha opções de emprego, cada um se virava como podia com as coisas da sua propriedade. Então, nós vivemos da agricultura familiar, apenas com o trabalho na roça. Nos primeiros 14 anos o fumo foi nossa principal atividade, depois a gente ainda vendia leite, manteiga e ovos, também alguns porcos e plantávamos o milho (sorgo-vassoura) que meu marido usava para fazer vassouras”, relembra Hilca.

E as peças feitas por Valdemar tinham destino certo: alguns mercados da região e também as indústrias. “Esse foi um dos muitos ofícios que aprendi com meu pai, plantar, depois colher no ponto certo, tirar as sementes e deixar secar para na hora de amarrar não amassar. No auge da produção, chegou a fazer 500 vassouras em um ano. Ele sempre separava uma ou duas dúzias para levar para as fábricas, para trocar por retalhos”, conta Waldir. “A gente costurava também, esses retalhos rendiam as toalhas de banho e de mesa que usávamos em casa e, às vezes, vinha um tecido melhor para fazer camisas”, complementa Hilca.

Foto: Arquivo pessoal

Na década de 1980, quando o fumo foi aos poucos sendo deixado de lado, a produção do mus e do melado ganhou protagonismo como fonte de renda para a família. Segundo Hilca, no auge da produção de melado eram feitas dez tachadas por semana.

“Na época ainda tínhamos sociedade com meu cunhado Haroldo, depois decidimos produzir por conta própria. Nós fazíamos o nosso próprio melado para vender e também para vizinhos e algumas famílias que procuravam o nosso engenho. Eles traziam a cana para moer e levavam o melado pronto. Depois ainda fazíamos o açúcar para nosso consumo e o mus, que também era vendido.”

Foto: Marta Rocha

Hilca aprendeu os segredos da fabricação artesanal logo que se casou com Valdemar. O casal se manteve unido por quase 60 anos e teve dois filhos. Ao contrário dos pais, aos 14 anos Waldir foi procurar um complemento de renda fora da propriedade e passou a trabalhar em uma empresa. “Mas no outro período eu ajudava meus pais em casa.”

Valdemar tocou a produção da família até adoecer e precisar se afastar. Na época, Waldir, que já era aposentado, decidiu dar continuidade ao trabalho que o pai tanto gostava de fazer. “É um orgulho poder continuar isso na minha família, poucas pessoas ainda produzem de forma artesanal.”

Há um ano, ganhou ainda mais responsabilidade e significado após a morte de Valdemar. “Se dependesse somente da minha parte, eu parava depois que meu marido ficou doente e faleceu. Quando meu filho decidiu ajudar, fiquei muito feliz”, revela Hilca.

Hoje Waldir é o braço direito da mãe. É ele quem planta e colhe a cana, prepara para a moagem, quando é extraída a garapa. O líquido vai para o fogo até engrossar e se transformar em melado. “Esse tempo de cozimento demora algumas horas até o melado chegar ao ponto ideal, de tanto fazer já sabemos na base do olho”, explica.

Já Dona Hilca se encarrega do preparo das frutas, que também são plantadas e colhidas na propriedade. “O mus de banana, tangerina e goiaba são os mais tradicionais. Depois de colher, é preciso lavar, tirar as cascas e todas as sementes pra não amargar, depois colocar para picar. Tudo isso demora em torno de três a quatro horas antes de preparar o mus no tacho, e a tangerina é a que mais dá trabalho.”

Hilca e Waldir explicam que a base do mus é a mesma do melado, a garapa extraída da cana, que depois é acrescida das frutas picadas de acordo com o sabor que se deseja preparar. “Depois são, em média, mais quatro horas de cozimento para o mus estrar pronto.”

Foto: Arquivo pessoal

Além do melado e do mus, mãe e filho ainda produzem o açúcar mascavo para consumo, seguindo o mesmo modo de fazer de décadas. De acordo com Waldir, o açúcar é o mais trabalhoso para ser preparado porque ainda tem o processo de secagem. “Se o sol está bonito, precisa de um dia pra secar”, expõe. “Mas se as abelhas chegarem, te cuida. Compramos uma tela para tampar. Mas, mesmo assim, elas ainda dão um jeito”, declara Hilca.

Para o futuro, esperam que a tradição de fazer o mus e o melado artesanal seja mantida como forma de resgate cultural e da história da família. “Me sinto bem em ajudar meu filho e fico muito feliz em saber que esse trabalho ainda não foi esquecido”, afirma Hilca. “Espero que apareçam interessados para dar continuidade, não somente na nossa família, mas para manter um costume que faz parte da cultura de Pomerode”, reitera Waldir.

Proibido reproduzir esse conteúdo sem a devida citação da fonte jornalística.

Receba notícias direto no seu celular, através dos nossos grupos. Escolha a sua opção:

WhatsApp

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui