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Einen Blick in die Vergangenheit – a fé como combustível para construir Pomerode

Especial multimídia retrata como os imigrantes encontraram na devoção a coragem para assumir o protagonismo

Os primeiros anos da imigração foram bastante desafiadores para aqueles que cruzaram o oceano em busca de novas oportunidades. Na chegada ao Brasil, havia muitos obstáculos, entre eles o período de espera no barracão dos imigrantes (na colônia central) até receberem suas terras demarcadas. Depois, havia a solidão, a necessidade de erguer rapidamente um local para abrigar a família e cultivar a terra o quanto antes em busca do sustento.

Vídeo: Primeira parte do especial multimídia conta a história das igrejas centenárias de Pomerode

Mas, muito além de esperança, essas pessoas trouxeram na mala a resiliência acompanhada pela fé. A pastora da Comunidade Luterana de Pomerode Fundos, Scheila Roberta Janke, desenvolveu uma tese de doutorado sobre o tema: “A fé evengélico-luterana como fator de resiliência para os imigrantes pomeranos no Brasil”.

Ela explica que antes mesmo da fundação oficial de comunidades, que geralmente são marcadas institucionalmente pela chegada de pastores ou construção da estrutura física das igrejas, os imigrantes encontraram maneiras de manter suas crenças vivas. “Foi fundamental o fato de terem trazido consigo suas fontes de fé, como a Bíblia, o Hinário, o livro de oração e ou o livro de devocionários. Num primeiro momento, eles mantiveram a fé acesa através da devoção familiar. Então era comum que lessem, no fim de semana, um texto bíblico, uma prédica que estava nos devocionários e fizessem uma oração em família”. Foi assim que, diante de uma situação não ideal, os colonos recém-chegados mantiveram a fé para que não sucumbissem.

Nas palavras de um imigrante

“Há muitas coisas que não valorizamos adequadamente enquanto as possuímos. Uma vez que elas não mais existem, percebemos o quanto elas valem. Isso aconteceu comigo e com muitos outros em relação à igreja e escola no Brasil. Na minha aldeia natal havia ambos. Eu não desprezava a palavra de Deus antes, mas confesso que foi só no Brasil que tomei consciência do que significa o culto regular e a ordem eclesiástica. Muitas vezes pensava sobre isso e me sentia triste. Mas meu ânimo se entristecia ainda mais nos domingos. Nenhum sino tocava, nenhuma igreja se abria. A maioria das pessoas trabalhava de manhã e à tarde ficava descansando se não estivessem trabalhando. (…) Eu já vivia três meses no país. Então, numa tarde de domingo, fui ver um de nossa colônia para lhe perguntar algo. (…) ‘Não faz bem viver aqui como um pagão e não poder ir à igreja’, eu disse. Ele olhou para mim e respondeu: ‘É uma pena que não tenhamos uma igreja e um pastor – pelo menos para um bom cristão – mas isso não significa que precisamos nos sentir como gentios. Poderíamos realizar algo como cultos entre nós. Que tal nos reunirmos em uma casa todos os domingos, cantar um hino do hinário e ler um sermão? Eu tenho um belo livro de sermões. Parece-me que você gostaria de algo assim e certamente haverá mais interessados. Fale com os outros e venha me ver no próximo domingo: vamos começar por aí.’ Concordei plenamente, e minha esposa, a quem contei, mais ainda. Ao longo da semana, conversei com alguns que conhecia, também fui a outros. Vivíamos bem separados. Alguns estavam dispostos, outros disseram que só viriam se um verdadeiro pastor viesse e pregasse! Porque senão ele também podia ler sozinho em casa. Outro até zombou: ele não pertencia aos piedosos. (…) No domingo seguinte nos reunimos, cerca de dez pessoas. Nenhum sino tocou, nenhum órgão soou, e mesmo assim nos sentimos solenes. Nós cantamos uma música, então lemos um sermão e uma oração foi lida do livro de orações de Stark. O canto finalizou o encontro. Esse foi o primeiro culto que nós, pobres e abandonados, celebramos na selva do Brasil. O querido Senhor certamente ficou satisfeito com isso e nós éramos devotos, na igreja mais linda não poderíamos estar mais. Quando quisemos voltar para casa, um disse: ‘Façamos assim todo domingo!’ E foi assim que aconteceu. Com o tempo, vieram mais pessoas. Alguns se mantiveram distantes. O local da reunião foi alterado para que cada casa tivesse a sua vez. Muitas vezes não havia espaço suficiente e alguns tiveram que se sentar do lado de fora. Celebramos vários cultos assim”.
(Erinnerungen eines Deutschen Ansiedlers in Brasilien. In: Sonntagsblatt für die evangelischen Gemeinden in Brasilien. Nr. 34, 12. Jahrgang, Februar 1899, s. 133).

Tão logo puderam se estabelecer em comunidade, os imigrantes católicos e luteranos do Vale do Rio do Testo trataram de construir seus primeiros templos religiosos. Neste especial você confere a história das três igrejas centenárias de Pomerode e o seu legado para o desenvolvimento da região no seu entorno.

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Uma história de pioneirismo e respeito pela fé

Uma construção histórica e carregada de significados é também uns dos pontos turísticos que mais chamam a atenção de Pomerode. Bem no centro do município, os traços da Capela Nossa Senhora das Graças atraem o olhar de quem passa pelo local.

Tão imponente e importante quanto as suas linhas arquitetônicas é também a sua história. Construída pelos imigrantes que chegaram à região, a capela é considerada a comunidade religiosa mais antiga estabelecida em Pomerode e a primeira comunidade católica do município.

Vindas de Münster, região alemã da Westfália, oito famílias católicas chegaram em 1867. Entre elas estavam Hermann Enkrott e sua esposa, e Bernardo Henkemeyer, sua esposa, três filhos e duas filhas. Os dois imigrantes se estabeleceram na margem direita do Rio do Testo, nos lotes 103 (Henkemeyer) e 104 (Enkrott).

A primeira igrejinha foi construída de forma bem rústica, de madeira e coberta com folhas de palmitos. Era pequena no seu tamanho, mas grande no seu propósito. A data oficial desse primeiro templo está registrada em 05 de maio de 1871, dia da sua inauguração e bênção.

O templo foi dedicado a São Ludgero, mártir que foi Bispo de Münster e grande evangelizador da região da Westfália. Logo em seguida, em 1877, o cemitério ao lado da capelinha também foi abençoado pelo padre José Maria Jacobs, pároco da então paróquia São Paulo Apóstolo de Blumenau.

Vídeo: Segunda parte do especial multimídia que conta a história dos primeiros imigrantes católicos que fundaram a Capela Nossa Senhora das Graças

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Assim consta nos registros da Catedral São Paulo Apóstolo com redação em português arcaico:

“Em virtude da faculdade que me foi concedida por provisão de 25 de janeiro deste ano, aos 29 de maio de 1877 às 11 horas da manhã benzi o cemitério contorno da capella de São Ludgero, em Nova Westphalia desta freguesia de São Paulo Apóstolo de Blumenau, usando neste acto da fórmula prescipta no Ritual Romano. E para constar fiz este termo que assignei. São Paulo de Blumenau, aos 29 de maio de 1877. Pe. José Maria Jacobs, vigário da freguesia de São Paulo.”

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Uma expressão de fé, beleza e pioneirismo

Mais do que um cartão postal de Pomerode, a Igreja da Paz é um marco na história da cidade e na expressão da fé evangélico-luterana dos imigrantes que aqui chegaram.

Foi no ano de 1884 que iniciou a construção da primeira Igreja Luterana de Pomerode, bem no centro do povoado. A Igreja da Paz, atual sede da Paróquia Apóstolo João, foi inaugurada em 1º de novembro de 1885, mas ainda sem torre.

“O objetivo desse Templo era para que o povo de Deus tivesse um lugar comum de reuniões para as suas celebrações de batismos, sacramentos, para a reunião do culto, da vivência em comunidade. Um espaço de comunhão uns com os outros e para a celebração de casamentos, confirmações de fé e, também, como na época não havia casas mortuárias, alguns sepultamentos faziam-se da casa para a igreja e depois para o cemitério, por isso, esse também era um lugar de despedida”, explica o pastor Tulio C. Jansen, que está à frente da Paróquia Evangélica de Confissão Luterana Apóstolo João juntamente com o pastor Daniel Kreidlow.

Vídeo: Terceira parte do especial multimídia conta a história da Igreja da Paz que guarda as memórias dos imigrantes luteranos

Marcos oficiais

• A Comunidade Luterana de Blumenau Centro foi oficialmente fundada em 9 de agosto de 1857, com a chegada do pastor Oswald Hesse.
• Famílias de imigrantes luteranos que se estabeleceram onde hoje é Pomerode, mas na época ainda colônia de Blumenau, foram atendidas por Blumenau esporadicamente desde 1862.
• A Igreja de Badenfurt foi fundada em 1864, data que é considerada também a fundação da mesma comunidade. Pomerode foi atendida pastoralmente por Badenfurt desde 1884.
• Já a igreja de Pomerode foi inaugurada em 1º de novembro de 1885.

Pastores que exerceram suas funções em Pomerode até meados da década de 1950:

– Pastor Rudolph Oswald Hesse (vindo de Blumenau), de agosto de 1857 a novembro de 1879;
– Pastor Johann Anton Heinrich Sandreczki (vindo de Blumenau), de 1879 a 1883;
– Pastor Heinrich Runte (vindo de Badenfurt), de janeiro de 1884 até o início de 1910;
– Pastor Johannes Bürger (primeiro pastor residente em Pomerode), de 02/10/1910 a 31/05/1914;
– Período de vacância, de 01/06/1914 a 31/12/1916, quando a Comunidade foi atendida pelo pastor Heinrich Radlach, de Badenfurt;
– Pastor Fritz Liebholt, de 01/01/1917 a 30/04/1920;
– Pastor em. Wilhelm Gottfried Lange, de 01/05/1920 a 31/10/1923;
– Pastor Adolf Langbein, de 01/12/1923 a 30/09/1926;
– Pastor Rudolf Friedendorff, de 01/12/1926 a março de 1931;
– Período de vacância de março a maio de 1931;
– Pastor Johannes Blümel, 31/05/1931 a 30/05/1932;
– Pastor Kurt Friege, junho de 1932 a fevereiro de 1939;
– Período de vacância de março de 1939 até o fim de 1942, quando a comunidade foi atendida pelo Pastor Werner Karl Friedrich Andresen, de Badenfurt;
– Período de vacância nos anos de 1943 e 1944. A comunidade foi atendida pelo estudante de teologia Edgar Liesenberg, vindo de Blumenau;
– Período de vacância nos anos de 1945 e 1946. A comunidade foi novamente atendida pelo Pastor Werner Karl Friedrich Andresen, de Badenfurt;
– Pastor Gustav Schuttkus, do início de 1947 a maio de 1954;
– Pastor Edgar Liesenberg, de maio de 1954 a setembro de 1980.

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Na Rota do Enxaimel, uma igreja centenária

Foi em 1884 que os primeiros moradores de Testo Alto começaram a se organizar também unidos pela fé, criando a Comunidade de Testo Alto I. E, embora os registros dos Cultos a Deus serem do ano de 1870, a primeira igreja luterana da localidade foi inaugurada apenas em 1886.

De acordo com o pastor Murilo Jung, a preservação dessa história não fica apenas na arquitetura, embora seja possível destacar importantes informações a partir dela. “A gente ter templos como esse, que estão colocados como patrimônios históricos do município, é pontuar claramente a nossa herança cristã. Nós, como cristãos, também temos esse apego à tradição porque a nossa fé é um legado de gerações. Nós cremos, claro, nas Sagradas Escrituras, as testemunhas primárias da morte e ressurreição de Jesus Cristo. Mas, a gente vive essa resposta, essa confiança que tem em Deus como comunidade.”

Vídeo: Quarta parte do especial multimídia conta a história do primeiro templo da Comunidade Luterana de Testo Alto, que foi construído em 1886

Registro histórico

Um dos documentos históricos guardados com muito carinho pela comunidade é o livro que contém os registros de nascimento de 1884 até início de 1954, a lista dos confirmandos de 1884 até 1954 e casamentos de 1884 até 1947. Nele é possível perceber o capricho na escrita e o estilo de grafia bem diferente do que hoje é usado.

De 1884 até 1941 os registros são em língua alemã. Em consequência da Segunda Guerra Mundial, os registros foram feitos em língua portuguesa a partir de 1942. Inicialmente o livro foi separado em partes, sendo uma para os batismos, outra para as confirmações e outra para os casamentos. Mas, por falta de espaço, não foi possível manter essa sequência ao longo dos anos.

Foto: Gabriel S.

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Agradecimentos

Pastora Scheila Roberta Janke, Pastor Tulio Jansen, Pastor Murilo Jung, Edson Klemann, Tradutor Dirceu Zimmer, Historiadora Roseli Zimmer, Jost Weege (in memoriam), Museu Pomerano, Paraíso Enxaimel Mundo Antigo, Turismólogo Ronald Kreidel, Casa Strutz, Ivo Rocha, Adair Hoffmann (Bubi), Vilmar Weber, Roland Ehlert, Lorenço Frahm, Adalbert Riemer, Gerard Maas, Gerhardt Bloedorn, Reinhardt Frahm e Úrsula Greuel.

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Confira alguns registros das três igrejas centenárias de Pomerode:

    

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