Diria certamente que a utilizo com mais constância do que o recomendado pelas pessoas sensatas. Há muito, o café e eu temos uma relação de cumplicidade. Ele me permite enfrentar as primeiras horas da manhã com dignidade, os momentos de vazio existencial com a sensação de acolhimento e os bons momentos com energia. Talvez você julgue que eu goste demais de café. Sim, culpada! Que o diga a caneca que já está perdendo a estampa nas bordas pela sequência de lava e esfrega.
Enfrentarei uma questão de saúde nessa semana (comento ela na próxima crônica) e encontro-me bastante ansiosa. Resultado: mais café, por favor?! Ele é meu combustível diário para manter a fé, devo admitir. No entanto, cheguei a uma situação calamitosa na terça-feira, quando a equipe do jornal caiu na gargalhada.
Após duas doses matinais e uma pós-almoço do líquido sagrado, saí da redação com minha caneca temática de Harry Potter (amo) dizendo em alto e bom som: já tomei café demais hoje, vou lavar essa xícara e guardar, que é pra não ter nem ideias a respeito.
Qual não foi minha surpresa ao chegar à recepção e me deparar com o aroma dos deuses que só um café recém-passado é capaz de produzir. O que eu fiz? Enchi minha caneca, é claro! Diante da situação, fui sumariamente julgada por todos ao redor, que se reuniram para rir.
Oras! É preciso honrar a iniciativa da pessoa de coração nobre que se dispôs a fazer um café fresquinho no meio da tarde, não é mesmo? Foi uma questão de civilidade, respeito e gratidão ingerir mais aquele tanto. Afinal, não se passa por um bule, jarra ou garrafa de café fresquinho sem dar a devida reverência que a situação merece.
Após saborear a quarta dose do dia, lavei a caneca e, com alma extasiada e a fé devidamente calibrada, voltei aos afazeres com o olhar de quem acredita no melhor do mundo. Bendito café! A caneca que aguente.