Rede Feminina de Pomerode completa 20 anos de um exímio trabalho voluntário

Família: Voluntárias que fizeram tudo se tornar possível.
O último dia do mês de outubro é sinônimo de comemoração para a Rede Feminina de Combate ao Câncer (RFCC) de Pomerode: duas décadas de ajuda na prevenção ao câncer e apoio às pacientes oncológicas e seus familiares. Nesses anos, a entidade conquistou o apoio da população pomerodense e, com isso, deu passos muito importantes em favor da prevenção e da cura dessa doença.
A RFCC tem um papel extremamente importante na cidade. São diversos serviços prestados à comunidade, desde exames preventivos até o apoio psicológico, físico e mental oferecido aos pacientes. Porém, vale destacar que nada disso seria possível sem o empenho das voluntárias, as quais realizam um trabalho excepcional, se entregando de alma e coração ao próximo.
Toda essa história começou há 20 anos, quando diversas mulheres se uniram em prol de um objetivo: criar a Rede Feminina em Pomerode. Uma delas foi Teodânia Hass Krahn, voluntária fundadora da RFCC na cidade. Segundo ela, naquele início, as madrinhas foram as voluntárias da RFCC de Blumenau, além disso, também puderam contar com a ajuda do Rotary de Pomerode.
Teodânia sempre se doou muito às atividades voluntárias, mas inicialmente atuava mais na área da cultura. O aspecto assistencial começou a entrar em sua vida com a chegada dos filhos, quando passou a enxergar as necessidades de toda a sociedade de uma forma diferente. “Acompanhamos alguns casos de famílias que perderam entes queridos com essa doença que hoje já é considerada, em grande parte, curável. Mas, há alguns anos, era bastante complicada”, explica.
Outra fundadora foi Magrit Krueger, na época prefeita de Pomerode. Ela foi convidada para um encontro entre as mulheres que tinham a vontade de iniciar a Rede Feminina na cidade. “Foi gratificante participar desse primeiro encontro, conversa e planejamento de como iríamos começar”, conta. Como prefeita e voluntária, inicialmente prestava somente apoio à causa. Após concluir o mandato, acabou se distanciando um pouco por conta da vida profissional, mas nunca deixou de ajudar, mesmo de longe. Há cinco anos voltou de forma definitiva para a entidade. De lá para cá, sua dedicação têm sido constante.
Matheus Kurth /Empatia: Magrit conta que o principal é saber ouvir.
Ao reviver todos os passos desse caminho, as voluntárias fundadoras lembram que, no começo, a Rede não possuía sede própria e ficava em uma sala cedida pela Associação Comercial e Industrial de Pomerode (Acip), no Centro. Magrit conta como era há 20 anos: “Na época não tínhamos muita coisa para oferecer, além do apoio moral e das visitas. No segundo ano, se não me engano, já começamos a realizar o preventivo”. Teodânia complementa que, aos poucos, elas foram percebendo que os atendimentos precisavam de um diferencial, tanto com relação ao espaço, quanto à contratação de uma enfermeira efetiva e o aumento dos horários disponíveis.
Nesse sentido, a também voluntária fundadora, Anete Flohr Haut, explica que os serviços da Rede foram se aprimorando a cada ano. “Com a ajuda de voluntárias que são profissionais da saúde, podemos disponibilizar ajuda em diferentes áreas”.
George Haut /Superação: Anete venceu o câncer com a ajuda da família, médicos e amigos.
Hoje, a RFCC de Pomerode oferece, além do Papanicolau, exame para detecção precoce do câncer do colo de útero, e da palpação das mamas para a detecção de uma possível anomalia, a entidade disponibiliza, o encaminhamento das pacientes ao apoio psicológico, nutricionista e terapias alternativas, como reiki, yoga e dança circular; Luva de Compressão Pneumática para a realização de drenagem linfática em mulheres mastectomizadas, sob supervisão de fisioterapeuta; empréstimo de perucas, cadeiras de rodas e andador; doação de próteses mamárias, gorros, lenços de cabelo e pescoço, entre outros.
Além disso, um dos grupos da Rede o qual também auxilia diretamente no tratamento é o setor Motivacional e de Apoio Vida Rosa, que realiza visitas domiciliares mensais, por duas voluntárias, oferecendo apoio, palavra amiga e conforto emocional. A atual coordenadora é Magrit, que está no cargo desde 2019 e resume esse trabalho em uma palavra: gratidão.
Para ela, o mais importante de tudo é saber ouvir. “Emprestar o ouvido para elas poderem desabafar enquanto ouvimos caladinhos. Isso é muito importante, porque elas querem desabafar e chorar. Depois, se assim desejarem, a gente conversa”, explica.
Ela sempre foi voluntária e faz visitas todo final de ano pela Ordem Auxiliadora das Senhoras Evangélicas (Oase) há 36 anos. Mas para Magrit, integrar a Rede mudou sua vida. “O coração da gente muda, é muito gratificante. Não tem trabalho ou coisa melhor nesse mundo do que prestar serviços ao próximo e se entregar para ele, emprestar teu ombro para chorar, aconselhar”, emociona-se.
Como voluntária, o que a marcou é a união construída ao longo do tempo. “Somos todas irmãs em prol a uma causa. Uma concordando com a outra, conversas, decisões, histórias e perdas, as quais não conseguimos esquecer. É uma grande família que está ali, à disposição, somente pensando no próximo”.
O grupo Apoio Vida Rosa também ajudou voluntárias da própria Rede Feminina, como Teodânia, que descobriu um câncer de mama em 2018. “Quando soube, o chão parece ter saído de debaixo dos meus pés. Eu só pensava que não podia, ainda nessa fase da minha vida, me entregar”. Seu primeiro sentimento foi de revolta, pois não acreditava teria que, algum dia, lutar contra essa doença. Por outro lado, o próprio voluntariado a fez ter força e acreditar que precisava ir atrás da cura e não esperar mais nenhum segundo. “E foi isso que eu fiz”, conta orgulhosa.
Teodânia não precisou utilizar da luva ou conversar com psicólogas, mas usou de todas as terapias alternativas, fato que ajudou no lado emocional. “Tive o apoio das colegas voluntárias também, até me emociono de falar, um acompanhamento bem legal, iam em casa, bacana mesmo”, revela, com lágrimas nos olhos.
Matheus Kurth /Companheirismo: Teodânia teve a ajuda de suas colegas voluntárias para vencer o câncer.
Hoje, ela é coordenadora de projetos, suplente do Conselho Fiscal e realiza plantão no brechó. Dentro da Rede, a bandeira levantada por ela é a da prevenção. “Tudo que você pode administrar precocemente é muito mais fácil de tratar”, explica.
Nesses 20 anos, Teodânia conta ter visto os tratamentos contra o câncer evoluírem e que o medo dessa doença precisa acabar. “A longevidade do ser humano faz com que a grande maioria das pessoas passe por um câncer. Nós precisamos tirar esse mito de que ele é o fim da vida, porque não é. Às vezes, ele é um recomeço e uma grande lição para você continuar sua vida de forma melhor”.
Para ela, a Rede é uma ajuda e um carinho. “Essa abrangência com a causa, prevenção e tratamento dessa doença que tem para com a comunidade é o diferencial o qual podemos proporcionar”, completa.
E é na prevenção que muitas doenças são descobertas. Foi realizando o exame preventivo, feito anualmente, que Anete descobriu também um câncer de mama, em 2018. Depois de vários exames, precisou fazer a mastectomia da mama esquerda, porém, como ainda estava na fase inicial, não precisou realizar quimioterapia ou radioterapia.
Para ela, foi uma fase muito difícil, mas que conseguiu superar com o apoio da família, médicos e também das voluntárias da Rede e, em especial, do setor Vida Rosa. “Elas são maravilhosas e o apoio de todos é fundamental”, conta. Além desse momento marcante, Anete também teve sua memória marcada pela perda de duas voluntárias para a doença.
Hoje, ela é coordenadora do Setor de Artesanato, responsável pela realização de diversos trabalhos, como confecção de panos de prato, sacolas, próteses mamarias, entre outros, e também é voluntária no Setor do Ambulatório, onde são recebidas as mulheres que realizam a coleta do exame preventivo.
Ela conta que ficou realizada por ter feito parte no encontro da fundação há 20 anos e por poder se tornar voluntária. “É um trabalho onde a simples recompensa de um sorriso, um abraço, um muito obrigado valem tudo”, completa.
Matheus Kurth /Alegria: Adora superou o câncer com leveza.
Outras voluntárias começaram após a fundação. Adora Geisler entrou em 2015 a convite da ex-presidente Leane. Como estava aposentada e queria se ocupar um pouco, aceitou. Porém, até aquele momento, não sabia de todos os serviços que eram proporcionados e, conhecendo aos poucos, escolheu ajudar no ambulatório.
Adora sempre realizou os exames preventivos com a Rede e, em 2018, descobriu um câncer no colo do intestino, o qual a fez passar por momentos difíceis na recuperação, dentre eles usar bolsa de colostomia. Felizmente, conseguiu encarar o tratamento com o espírito leve. “Por tudo o que passei, sempre tive a autoestima boa, às vezes até brincava com as coisas da doença, até na época que eu usava a bolsa de colostomia, fazia as brincadeirinhas e levava assim tranquilamente”, conta orgulhosa.
Como seu câncer foi no intestino, não precisou utilizar a Luva, mas conta ter usufruído do amor de suas colegas voluntárias para seguir adiante. “Na época em que era paciente, também me visitaram e me deram carinho e atenção. É uma motivação e gratidão por poder proporcionar alguma coisa a mais para as pessoas”.
Para ela, a Rede Feminina tem um papel significativo na sociedade. “As pacientes se sentem acolhidas. É um fato muito importante elas terem um lugar a procurar. Eu acho que, em nível nacional, o trabalho a qual todas elas fazem é essencial”, finaliza.
Estar à frente de todas essas voluntárias é um trabalho muito louvável e, é esse o papel cabível nesse momento à Marineuza Henschel, atual presidente da Rede Feminina de Pomerode. Ela entrou para a entidade há 15 anos por convite de algumas colegas que já estavam integradas no grupo e, como sempre gostou de ajudar e estar por dentro dessas campanhas, aceitou prontamente. “Estive ausente em determinado período por situações de trabalho. Mas há cinco anos, a partir da minha aposentadoria, retornei com todo meu tempo e dedicação”, explica.
Matheus Kurth /Presidente: Marineuza está à frente da Rede Feminina de Pomerode.
Quando Marineuza assumiu a diretoria, sabia que o ano de 2020 seria uma comemoração importante devido ao aniversário. Porém, ninguém imaginava o que realmente estava por vir. Por isso, a Rede precisou se reinventar e fez isso com muito sucesso. “A gente precisa de superação, tanto para passar por um câncer quanto para qualquer momento da vida, e é isso que estamos fazendo juntas”, conta.
Para ela, é uma realização poder estar à frente disso tudo, mas também por serem um grande grupo, sempre trabalhando e vivendo esse sonho juntas, trazendo prevenção e apoio à sociedade.
“São 20 anos de amor a essa comunidade maravilhosa a qual muito nos acolhe e de sonhos sendo realizados e construídos. Hoje, mais do que nunca, nós queremos abraçar todas as voluntárias e a população. E, eu quero fazer o meu agradecimento especial a toda essa grande família cor de rosa”, finaliza a presidente.
Imagens
Foto: George Haut
Superação: Anete venceu o câncer com a ajuda da família, médicos e amigos.Foto: Matheus Kurth
Alegria: Adora superou o câncer com leveza.Foto: Matheus Kurth
Empatia: Magrit conta que o principal é saber ouvir.Foto: Matheus Kurth
Companheirismo: Teodânia teve a ajuda de suas colegas voluntárias para vencer o câncer.Foto: Arquivo TN
Família: Voluntárias que fizeram tudo se tornar possível.Foto: Matheus Kurth
Presidente: Marineuza está à frente da Rede Feminina de Pomerode.