Previsões, topas?
Faz alguns anos, em Porto Alegre, entrevistei uma cartomante/vidente. E uma das perguntas que fiz a ela foi sobre quando ela era mais procurada, em que momento do ano. A resposta foi óbvia: fim de ano. Passaram-se os anos, fiz, no rádio em Florianópolis, entrevista parecida, uma vidente/astróloga. Mesma pergunta, resposta por igual.
Então, vou fazer a você que agora me “ouve” uma pergunta que se me afigura intrigante: – Supondo que você estivesse de fato diante de um vidente, você gostaria de saber de tudo sobre o seu futuro? Vou dar uma resposta abusada, mas em confiança a nossa amizade: – Só se fosse louca, louco.
É terrível saber do futuro. Antes de tudo, nem vou falar do futuro de que ninguém escapa, jamais escapou e escapará… “Aquele” futuro. Fora disso, saber do futuro nos tira a graça das lutas na vida, lutas que nos anestesiam da consciência da finitude e dos inúteis de todas as eventuais conquistas. – Ah, você quer saber se vai casar com ele, com ela? E daí, e se a resposta for sim, vais continuar lutando e se fazendo melhor para justificar a conquista? Duvido. A certeza nos tira o brilho, essas certezas sobre as futilidades que por princípio nos parecem importantes. Importantes são a saúde e a vida. O mais é luta e encantamentos pelo desconhecido que podemos e desejamos conquistar… De certo ponto de vista, nada é melhor que a ignorância. Quantos sofrimentos evitamos por que não sabíamos o que estava acontecendo? Já foi dito que esperar pela festa é melhor que a própria festa mais tarde. E o que é esperar? É desejar, é não ter certeza, é idealizar, fantasiar.
No passado, tempo dos corredores da Rádio Gaúcha, em Porto Alegre, eu costuma pedir a mão de uma colega para lê-la, dizer a ela do futuro dela. E eu fazia um teatro, sério: – “Olha vai dar tudo certo, vais conseguir o que queres, porém… – Vais ter que lutar muito, jogar sério, preservar a fé, a ética e não desanimar; assim, tudo vai dar certo…”. Será que, mesmo brincando, eu estava errado? É assim que devemos prever o nosso futuro, com alma, coração e vida. É o que mais fazem os “videntes” profissionais: dizer obviedades. Ao ser humano não foi dado prever o futuro, diz a Bíblia, mas lutar por ele. E a felicidade está na fé da espera.
AJUDAS
Sim, meto-me em tudo. Por exemplo, na conduta dos “bonzinhos” que vão pedir graças à mãe Iemanjá nesta passagem de ano. Vão dar pulinhos nas ondas do mar ou erguer taças de leviandade a seus deuses, pedindo favores… O que deve ser pedido é força para a luta e muito suor ético, com certeza, então, os “santos” vão ajudar. O mais é almoço grátis…
FAMÍLIAS
Gordon Levinsgton, psiquiatra e escritor americano, conta de um pôster que ele um dia viu numa sala de palestras, nos EUA. O pôster mostrava um auditório com quatro ou cinco pessoas, e dizia: “Palestras para filhos adultos de famílias normais”. Brincadeira? Nada, a mais santa das verdades. Sabemos bem, pelas nossas famílias “normais”, sabemos bem…
FALTA DIZER
Que beleza, estivemos juntos no esgotado 2019. Gostei. Gostei e preciso ser grato. Você e seus olhos movidos pela saudável curiosidade me justificaram todos os esforços. Não há como não agradecer e ser feliz por este acompanhamento. Grato pelo companhia, pela parceria. Você anda na contramão do mundo moderno, mundo das “superfícies”, você lê jornal. Felicidades. Estou levantando a taça para você.