A inveja e os ossos
Não tinha muito o que fazer, liguei a tevê. Liguei e fui indo, fui indo e nada… Nada de bom que me pudesse prender por alguns escassos minutos, fui indo… Até que dei de cara com um sujeito, quase babando, que dizia que ia me libertar da inveja. Literalmente, a frase dele era: – “Você vai se libertar dessa inveja”. Só não fui buscar uma cerveja na geladeira porque não tinha… – Ah, espere um pouco, se alguém me fizer livre das invejas eu não vou valer um tostão furado! Quanto mais invejado eu for, mais brilhante serei, em alguma coisa, em qualquer coisa, afinal, sabemos que ninguém inveja o que é ruim. Mas eu dou um desconto ao sujeito que “babava” na televisão, dou-lhe um desconto. Há muita gente que acredita na força, falsa força, da inveja; há quem acredite no poder, falso poder, do olho-gordo, do olho-grande. Bah, é o que mais há por aí, gente de cabeça pequena que acredita nessas estultícias. Pensando bem, a inveja tem um poder sim, um poder milenar, os antigos caldeus já diziam isso: – “A inveja faz secar os ossos, os ossos do invejoso”. A inveja não tem nenhum poder, se tiver foi você que deu esse poder a ela. Olho-grande, olho-gordo tudo é invenção de gentinha insegura. Já disse que ninguém inveja o que não presta, ora, se alguém nos inveja esse alguém quer ter o que temos e ele ou ela não tem. Temos que fazer nossa maior força para continuar cada vez mais e mais invejados. Isso significa que estamos numa boa em relação aos “pequeninos” que nos invejam. Agora, que fique claro, se a pessoa acreditar no poder da inveja, do olho-gordo ou grande, babaus, esse medo pode abrir crateras dentro de nós. É o que nós cremos ou tememos que nos abate, nada mais.
Volta e meia, sem nos dar conta, dizemos – Ah, como invejo aquela pessoa, como invejo a fulana, como invejo o fulano… E por quê? Ora, já disse, porque essas pessoas estão onde gostaríamos de estar, só isso.
O cidadão que bababa na televisão que sossegue o facho e deixe de assustar os ingênuos, não os quero chamar de ignaros. Seria muito deselegante.
Vou lá dentro me ajeitar um pouco, quero que me invejem, o máximo possível.
FERRO
Esses caras têm que levar “ferro”, que os debochados têm que aprender, ah, têm… Ordinários de carro com som alto, perturbador da ordem pública, tocando funks (lixos) cujas letras você não pode imaginar. Safadezas, palavrões do pior tipo, indecências e deboche às mulheres e à ordem… E vão ficar impunes? A apatia dos importunados é incentivo ao vagabundos. Ferrro…
TÉDIO
Ouça esta, dita por um americano, psicólogo, Gordon Livingston: – “O tédio é uma característica típica da nossa época. Tentamos frequentemente eliminá-lo, buscando estímulo e excitação em atividades destituídas de significado”. Para confirmar, basta observar as pessoas por aí tudo, celular na mão e olhos grudados… É o ópio com que tentam compensar seus vazios existenciais. O tédio está dentro das pessoas.
FALTA DIZER
Fato. Ela deve ter uns 28 anos, ele 34. O sujeito não é muito diferente de um “tronco”, vive fazendo reparos à namorada, “tossindo” forte, não escondendo que é um cara agressivo, difícil. Quando a família ou os amigos lhe falam sobre a personalidade do camarada, a moça diz que ele é assim mas a ama. Coitada, vai pagar caro por essa burrice. Quem ama é delicado.